segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Estudos ligam consumo de alimentos ultraprocessados à alta obesidade

O maior consumo dos chamados alimentos ultraprocessados –salgadinhos, biscoitos, alguns pães de forma, sucos, refrigerantes e mais uma boa parte do que hoje se encontra em pacotinhos– tem sido apontado com maior frequência em estudos como um dos fatores para o avanço na obesidade no país. O conceito foi criado em 2009 por pesquisadores brasileiros, que, intrigados com dados de consumo alimentar mapeados pelo IBGE, criaram um sistema de classificação para tentar separar os tipos de alimentos de acordo com a composição e nível de processamento tecnológico. "As pessoas estavam deixando de cozinhar. Por outro lado, estavam consumindo cada vez mais gordura e açúcar", relata Carlos Monteiro, do departamento de nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. A partir daí, os alimentos foram divididos em quatro categorias principais: in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados –caso daqueles que possuem menor quantidade de alimentos inteiros e maior volume de aditivos, por exemplo. E aí veio o resultado: a aquisição de alimentos in natura havia diminuído de 44%, em 1999, para 38,9% em 2009, segundo estudos a partir da edição mais recente da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE. Já a de alimentos processados e ultraprocessados passou de 20,3% para 32,1%. Desde então, o indexador PubMed, do governo americano, já lista quase cem estudos sobre o tema. A maioria associa a maior disponibilidade e consumo desses alimentos ao aumento do excesso de peso no Brasil e em outros países. Em 2015, a Opas (Organização Pan-americana de Saúde) também divulgou relatório que mostra que o aumento no consumo desses alimentos tem levado ao aumento no IMC (índice de massa corporal) em países da América Latina. Segundo Monteiro, esses alimentos acabam por substituir o consumo de outros in natura. "É um conjunto: a maior palatabilidade, o fato de gastar menos energia para digeri-los e de darem menor saciedade, por terem muito pouca fibra e proteína", explica. "Sempre fomos capazes de regular o que vai comer simplesmente pela fome. E esses alimentos enganam a fome." Mesma avaliação tem Michele Lessa, coordenadora de nutrição e alimentação do Ministério da Saúde. "A população está cada vez mais consumindo esses alimentos por questões de praticidade, acesso e tempo. São alimentos com alto teor de açúcar, gordura, conservantes, e com densidade energética muito alta", afirma. "Não temos dúvida de que o maior consumo de ultraprocessados têm aumentado a prevalência de obesidade." Representantes da indústria, porém, contestam. Para o presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), Edmundo Klotz, o conceito de "ultraprocessados" é inadequado e não pode ser associado ao avanço no excesso de peso. "Levando em conta o fato de que as doenças crônicas não transmissíveis têm causas multifatoriais, não faz sentido acreditar que o maior consumo de alimentos processados seja um causador de obesidade", defende. Monteiro, no entanto, contesta. "A reformulação é importante para tirar a gordura trans, e reduzir conteúdo de sódio. Isso vai ter impacto grande nas doenças cardiovasculares, mas pouco na obesidade." Para a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o importante é que o consumidor saiba diferenciar os alimentos. "Quando fala em alimentos industrializados, isso inclui uma boa parte que são saudáveis e devem fazer parte da alimentação, como arroz e feijão ensacados, por exemplo. Outra coisa são os ultraprocessados, que são alimentos supérfluos, que não dependeríamos para ter uma alimentação adequada e saudável", afirma. Para ver todo o conteúdo desta matéria acesse o link abaixo: Fonte: Folha de São Paulo publicada em 12/08/2017 http://m.folha.uol.com.br/…/1909330-estudos-ligam-consumo-d…